domingo, 23 de novembro de 2008

Discurso no mercado do desemprego

Talvez perca — se desejares — minha subsistênciaTalvez venda minhas roupas e meu colchãoTalvez trabalhe na pedreira... como carregador... ou varredorTalvez procure grãos no estercoTalvez fique nu e famintoMas não me vendereiÓ inimigo do solE até a última pulsação de minhas veiasResistireiTalvez me despojes da última polegada da minha terraTalvez aprisiones minha juventudeTalvez me roubes a herança de meus antepassadosMóveis... utensílios e jarrasTalvez queimes meus poemas e meus livrosTalvez atires meu corpo aos cãesTalvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeiaMas não me vendereiÓ inimigo do solE até a última pulsação de minhas veiasResistireiTalvez apagues todas as luzes de minha noiteTalvez me prives da ternura de minha mãeTalvez falsifiques minha históriaTalvez ponhas máscaras para enganar meus amigosTalvez levantes muralhas e muralhas ao meu redorTalvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignosMas não me venderei Ó inimigo do solE até a última pulsação de minhas veiasResistireiÓ inimigo do solO porto transborda de beleza... e de signosBotes e alegriasClamores e manifestaçõesOs cantos patrióticos arrebentam as gargantasE no horizonte... há velasQue desafiam o vento... a tempestade e franqueiam os obstáculosÉ o regresso de UlissesDo mar das privaçõesO regresso do sol... de meu povo exiladoE para seus olhosÓ inimigo do solJuro que não me vendereiE até a última pulsação de minhas veiasResistireiResistireiResistirei

Nenhum comentário: