terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Finlândia é exemplo de valorização do educadorPDFImprimirE-mail
Terceiro colocado no ranking do Pisa, receita de sucesso do país é valorização do professor e do ambiente escolar
No ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) 2009, aplicado em 65 países pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a Finlândia alcançou o 3° lugar. O país chama a atenção não só pelos bons resultados, mas por apresentar um modelo diferente dos outros líderes do ranking, China e Coreia do Sul. No lugar de toneladas de exercícios e de um ritmo frenético de estudo, na Finlândia há pouco dever de casa. A maior preocupação é com a qualidade dos professores e dos ambientes de aprendizado. Não há avaliações periódicas padronizadas de alunos e docentes, que não recebem remuneração por desempenho. E todo o sistema escolar é financiado pelo Estado.
Em seu livro, "Finnish lessons: what can the world learn from educational change in Finland?" (em uma tradução livre, Lições finlandesas: o que o mundo pode aprender com a mudança educacional na Finlândia?), Pasi Sahlberg, diretor de um centro de estudos vinculado ao Ministério da Educação do país, diz que o magistério é a carreira mais popular entre os jovens e que a transformação no Brasil deve começar pela igualdade de acesso a um ensino de qualidade.
O GLOBO: A Finlândia ocupa a 3 posição no ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), entre 65 países avaliados pelo exame da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No entanto, nem sempre foi assim. Quando começou a transformação na Educação finlandesa?
PASI SAHLBERG: A grande transformação do sistema educacional finlandês começou no início da década de 1970, quando foi criado o sistema de ensino obrigatório de nove anos. Todas as crianças do país passaram a estudar em escolas públicas parecidas e de acordo com o mesmo currículo nacional.
O principal objetivo desse modelo era igualar a oportunidade de acesso a uma Educação de qualidade e aumentar o nível educacional da população. Assim, a reforma educacional não foi guiada pelo sucesso escolar e, sim, pela democratização do acesso a escolas de qualidade. Esse movimento continuou nos anos 90, com a necessidade de uma população mais preparada para o mercado de trabalho.
O GLOBO: Quais foram as bases da revolução educacional finlandesa? Quais são seus pontos fortes?
SAHLBERG: O compromisso da sociedade finlandesa pela igualdade de acesso a uma Educação de qualidade foi decisivo. A Finlândia com seus 5 milhões de habitantes não pode perder nenhum jovem. Todos precisam ter uma Educação de qualidade. Os pontos fortes do sistema finlandês são o foco nas escolas, para que elas possam ajudar as crianças a ter sucesso; Educação primária de alta qualidade, que dê uma base sólida para as etapas seguintes do aprendizado; e a formação de professores em universidades de ponta, que tornaram a profissão uma das mais populares entre os jovens finlandeses.
O GLOBO: No Brasil, muitas políticas públicas sofrem com a falta de continuidade. Isso acontece na Finlândia? O que fazer para garantir a continuidade?
SAHLBERG: A Finlândia manteve uma política pública estável desde a década de 70. Diferentes governos nunca tocaram nos princípios que nortearam a reforma, apenas fizeram um ajuste fino em alguns pontos. Essa ideia de uma escola pública de qualidade para todos os finlandeses foi um consenso nacional construído desde a Segunda Guerra Mundial. É o que no livro eu chamo de "sonho finlandês".
O GLOBO: O mundo parece buscar uma fórmula mágica para a Educação. Existe uma fórmula válida para todos?
SAHLBERG: Não, não existe nenhuma fórmula mágica nem um milagre secreto na Educaçãofinlandesa. O que fizemos melhor do que outros países foi entender qual é a essência do bom ensino e do bom aprendizado. As crianças devem ser vistas como indivíduos que têm diferentes necessidades e interesses na escola. Ensinar deve ser uma profissão inspiradora com um grande propósito de fazer a diferença na vida dos jovens.
Infelizmente, esses princípios básicos deram lugar a políticas regidas pelo mercado em vários países. Essa lógica de testar estudantes e professores direcionou os currículos e aumentou o tédio em milhões de salas de aula. A fórmula para uma reforma da Educação em muitos países é parar de fazer essas coisas sem sentido e entender o que é importante na Educação.
O GLOBO: O que foi feito na Finlândia e que poderia ser reproduzido em outros países em desenvolvimento, como o Brasil?
SAHLBERG: A pergunta deve ser o que é possível aprender com a experiência finlandesa, não reproduzir. Primeiro, a experiência da Finlândia mostrou que é possível construir um modelo alternativo àquele que predomina nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países. Mostramos aqui que reformas guiadas pelo mercado, com foco em competição e privatizações não são a melhor maneira de melhorar a qualidade e a equidade na Educação.
Segundo, é importante focar no bem-estar das crianças e no aprendizado da primeira infância. Só saudáveis e felizes elas aprenderão bem. Terceiro, a Finlândia mostrou que igualdade de oportunidades também produz um aumento na qualidade do aprendizado. É preciso que o Brasil combata essa desigualdade de acesso. Só um plano de longo prazo para a Educação e compromisso político possibilitarão que os resultados sejam alcançados.
O GLOBO: Os professores ocupam um papel importante no sistema finlandês. Como prepará-los bem? Um salário atrativo é importante?
SAHLBERG: Professores são profissionais de alto nível, como médicos ou economistas. Eles precisam de uma sólida formação teórica e treinamento prático. Em todos os sistemas educacionais de sucesso, professores são formados em universidades de excelência e possuem mestrado.
O salário dos professores deve estar no mesmo patamar de outras profissões com o mesmo nível de formação no mercado de trabalho. Também é importante que professores tenham um plano de carreira, com perspectivas de crescimento e desenvolvimento.
O GLOBO: No Brasil, poucos jovens são atraídos pelo magistério. A carreira atrai muitos jovens na Finlândia?
SAHLBERG: O magistério é uma das profissões mais populares entre os jovens finlandeses. Todo ano, cerca de um a cada cinco alunos que terminam o ensino médio tem a carreira como primeira opção. Há dez vezes mais candidatos para programas de formação de docentes para Educação infantil do que vagas nas universidades.
A Finlândia tem o privilégio de poder controlar a qualidade dos professores na entrada e depois garantir que só os melhores e mais comprometidos serão aceitos nessa profissão nobre.
O GLOBO: A inclusão das novas tecnologias nas salas de aula vem sendo muito debatida. Como você vê esse processo? Como isso é feito na Finlândia?
SAHLBERG: Tecnologia é parte das nossas vidas e é usada nas escolas finlandesas. Professores na Finlândia usam tecnologia para ensinar de maneiras muito diferentes. Alguns, a utilizam muito e outros raramente. Aqui a tecnologia é uma ferramenta, mas o foco continua sendo na pedagogia entre pessoas, sem tecnologia. A tecnologia não deve guiar o desenvolvimento educacional e, sim, ser uma ferramenta como várias outras.
O GLOBO: Retomando o título do seu livro, quais são, afinal, as principais lições do sistema deEducação finlandês?
SAHLBERG: A mais importante das lições é que há uma alternativa para se chegar ao sucesso prometido por reformas guiadas pelo mercado. A Finlândia é o antídoto a este movimento que impõe provas padronizadas, privatização de escolas públicas e remunera os professores com base em avaliações de desempenho que se tornou típico de diversos sistemas educacionais pelo mundo. (O GLOBO, 27/02/12)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Governadores x professores
Na posse de Maria das Graças Foster na presidência da Petrobras, ontem, os governadores Sérgio Cabral (RJ), Jaques Wagner (BA), Antonio Anastasia (MG), Cid Gomes (CE) e Renato Casagrande (ES) pediram ao presidente da Câmara, Marco Maia, para colocar em votação projeto que reduz o piso nacional dos professores. O reajuste em 2012 será de 22%. Os governadores querem que o parâmetro seja o INPC, que daria um aumento de 6%.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Este texto fabuloso é do colunista Cao Hering...vale a pena

“Universotário”

Juro pra você, caro e paciente leitor, vez ou outra paro, apalermado, tentando compreender o estrago que a indústria fonográfica fez no gosto musical dos brasileiros. Minha aversão a esse ultraje à escala cromática tem origem: o forte divisor nos costumes liderado por uma turma que ousou olhar a cultura, sobretudo a música, de ponta-cabeça e agora chega aos 70 anos. Alguns até ultrapassaram a risca, outros já percorrem estradas desconhecidas. A lição é antiga, faz uns anos falei dela aqui. Quando vivia o olho dessa revolução, jovem e ingênuo, um igualmente jovem e competentíssimo professor de português nos mostrou porque, naquele tsunami (a palavra ainda não existia) de criatividade musical, uma parcela da população insistia em consumir em doses significativas a música caipira, de rimas pobres e óbvias construções melodramáticas.

“Passa pelo universo de cada um”, disse o mestre. E naquela aula, parafraseando Geraldo Vandré, um genial compositor daquele tempo de mudanças, “as visões se clarearam”. Facilíssimo: os diferentes universos aos quais cada um de nós pertence explicam não só a questão do gosto musical, mas os eventuais impasses ao apresentarmos um ponto de vista. O cara com quem você interage não precisa vir de um universo totalmente estranho ao seu, basta haver bagagens desproporcionais de conhecimento e vivência e não haverá diabo no mundo que faça um gostar de Ai Se Eu Te Pego e o outro de Águas de Março...

Minha intriga é com quem tomou os lugares de Caetano, Gil, Tom, Elis, Geraldo, Baden, João, Rita, Chico, Francis, Vinicius, Adriana, Gal, Bethânia, Menescal, Lupicínio, Nara, Taiguara, Raul, Antônio Carlos, Jocafi, Sá, Guarabyra, Martinho, Paulinho e mais uma infinidade de virtuoses da MPB (falta muito nego bom nessa lista...) quando abriram naturalmente seus espaços para a turma que vinha chegando. Aquela célula sertaneja, servindo a um público sem interesse ou condição intelectual para acessar os movimentos de ruptura, de repente viu-se à vontade para crescer, pois a expectativa por mais erudição – ou mesmo uma manutenção – entre os brasileiros com a chegada de novas e ágeis tecnologias, virou triste regressão e o mau gosto tomou conta de vez. É de chorar em caipira.

Exceções à parte, o que a Educação fez com o Brasil nas últimas décadas? Desde salários “ó!”, professores “hã?”, alunos “aê, profe, vai encará!?” e curiosidades como o sistema que considera “traumática” a reprovação, também no tocante às artes fomos adquirindo gradativamente um insaciável paladar de égua. Meu caro jovem, se consegui segurar você até aqui é bom sinal. Topa submeter-se a uma experiência bem fácil? Vá ao YouTube e ache Construção de Chico Buarque. Aí procure ficar a sós e apague a luz, cale a voz, folgue os nós da gravata, dos sapatos, esqueça a data (Opa! Isso já é Gilberto Gil...) e assimile estrofe por estrofe dessa bela composição – uma formidável catadupa de proparoxítonas com instigante crítica social adaptável a qualquer tempo – que a moçada das baladas da minha época fez chegar aos primeiros lugares. Mais: muitos “hits” eram assim.

Mas a galera achinelou-se e as gravadoras – pragmáticas e boas no mimetismo – fizeram a rápida e providencial leitura ótica do mercado. Nada de pérolas aos porcos. Serviram-lhes a lavagem mesmo, é mais barata e muito bem aceita. Por momentos cheguei a acreditar no famoso ciclo, pelo qual – como a moda, a gastronomia, o cinema, etc. – um dia reviveríamos a música de qualidade. Mas ouvi por aí que Michel Teló vai ser recebido pelos “heróis” do BBB.

E alguns ainda esperam o Apocalipse só lá pro fim do ano...